Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
8 de Maio de 2024
    Adicione tópicos

    Leia depoimento de mulher que matou pai com quem teve 12 filhos

    Publicado por JurisWay
    há 13 anos

    Folha

    Severiana respondia por ter encomendado a morte do pai, Severino Pedro de Andrade, de quem engravidou 12 vezes e teve cinco filhos durante os 29 anos em que foi vítima de abusos sexuais por parte dele.O júri popular acatou a tese da defesa, de inexigibilidade de conduta diversa, ou seja, de que a ré não poderia ser condenada porque foi coagida desde a infância e agiu sem ter outra opção.

    Severina, que vive na zona rural de Caruaru (136 km de Recife), começou a ser estuprada aos nove anos de idade e, em 2005, contratou dois homens para matar o pai, ao perceber que ele assediava uma de suas filhas-netas.

    No julgamento, até a Promotoria pediu a absolvição da acusada. Os dois assassinos, Edilson Francisco de Amorim e Denisar dos Santos, foram presos, julgados e condenados. Eles cumprem pena em Caruaru.

    VEJA O DEPOIMENTO DE SEVERINA:

    *

    Eu nunca estudei, nunca tive amiga, nunca arrumei um namorado na vida, nunca saí para ir a uma festa. Até os 38 anos, vivi assim, e foi assim até quando me desliguei do meu pai, no dia em que ele foi morto.

    Meu pai não deixava eu e minhas irmãs fazermos nada. Toda a minha vida eu sofri. Comecei a trabalhar na roça ainda menina, com seis anos, arrancando mato.

    Aos nove, fui com meu pai para o roçado. No caminho, ele me levou para o mato, amarrou minha boca com a camisa, me jogou de cabeça e tentou ser dono de mim. Eu dei uma pezada no nariz dele, e ele puxou uma faca para me sangrar.

    A faca pegou no meu pescoço e no joelho. Depois, ele tentou de novo, mas não conseguiu ser dono de mim.

    Em casa, contei para minha mãe e ela me deu uma pisa. Fiquei sem almoço.

    À noite, minha mãe foi me buscar e me levou para ele. Me botou de joelhos na cama, tampou minha boca com o lençol e pegou nas minhas pernas para ele pular em cima. Eu dei um grito e depois não vi mais nada.

    No outro dia, fui andar e não pude. Falei: Mãe, isso é um pecado, é horrível. E ela: Não é pecado. Filha tem que ser mulher do pai.

    A partir daquele dia, três dias por semana, ele ia abusando de mim. Com 14 anos, eu engravidei. Tive o filho, e ele morreu. Eu tive 12 filhos com meu pai. Sete morreram. Seis foram feitos na cama da minha mãe. Dormíamos eu, pai e mãe na mesma cama.

    Um dia, uma irmã minha disse que estava interessada em um namorado. O pai quis pegar ela, disse que já tinha um touro em casa, e que não era para ninguém andar atrás de macho lá fora.

    Eu mandei minha mãe correr com minha irmã, e ele correu com a faca atrás. Depois disso, minha mãe não ficou mais com ele. Foram todos embora para Caruaru, para a casa do meu avô. Ela e as minhas oito irmãs.

    Só ficamos eu e meu pai na casa. Eu tinha 21 anos, e ele sempre batia em mim. Tentei me matar várias vezes, botei até corda no pescoço.

    Os filhos nasciam e morriam. Os que vingavam foram se criando. Minha filha estava com 11 anos quando ele quis ser dono dela. Falou assim: Nenê está engrossando perninha? Tá saindo peitinho, enchendo a melancia? Tá bom de experimentar, que é para ir se acostumando. E tacou a mão nela.

    Eu falei: Seu cabra da peste, está escrito na minha testa que eu sou Maria-besta? Eu sou filha de Maria, mas besta eu não sou. E ele: Rapariga safada, Maria era mulher para todo acordo. E tu, não tem acordo?

    Nessa hora, eu disse para ele: Se você ameaçar a minha filha, você morre. Minha mãe aceitou, mas eu não. Meu pai me bateu três dias seguidos, deu um murro no meu olho que ficou roxo.

    Na segunda, ele amolou uma faca e foi vender fubá [farinha de milho]. Antes, disse: Rapariga safada, quando chegar, se você não fizer o acordo, vai ver o começo e não o fim.

    Eu respondi: Ô pai tarado da peste, se você ameaçar a minha filha, você morre. Ele foi para a feira e eu, para a casa da minha tia. Lá, mostrei meu corpo lapeado, o olho roxo, o ouvido estourado.

    Meu pai tinha amolado uma faca de 12 polegadas na segunda-feira à noite e me mataria na terça se eu não fizesse o acordo. Foi quando paguei para matarem ele.

    Peguei um dinheiro que tinha guardado, fui para Caruaru e, na casa do Edilson, paguei R$ 800 na hora.

    Quando o pai chegou, o Edilson veio acompanhando. Foi quando acabou a vida dele. O rapaz arrumou um amigo e fez o homicídio. A faca que ele havia comprado, interessado na minha vida, ele morreu com ela.

    A minha filha, a filha dele, eu salvei. Quem é pai, quem é mãe, dói no coração. Levar a sua filha para a cama, abrir os quartos dela, como a minha mãe fez, e o pai ir para cima da filha? Eu, como passei por isso, jamais iria aceitar.

    Antes disso, eu ainda procurei os meus direitos, mas perdi. Há uns 15 anos, fui na delegacia, mas ouvi o delegado falar para eu ir embora e morar com o velhinho (o pai), que era uma boa pessoa.

    O homicídio foi no dia 15 de novembro de 2005. No cemitério, já tinha um carro de polícia me esperando. Na cadeia, passei um ano e seis dias. Fiquei no castigo, depois fui para uma cela.

    Depois do julgamento, fiquei feliz. Antes, pensava na liberdade e na cadeia ao mesmo tempo. Agora, quero viver e ficar com meus filhos. Quero que minha história sirva de exemplo, para que os pais e as mães procurem respeitar os seus filhos, ser amigos deles. A gente é pobre, mas pobreza não é desonra. Desonra é o cara fazer do próprio filho um urubu.

    A partir de hoje eu quero é viver, porque tenho muita coisa para aproveitar pela frente. Tenho a liberdade e os meus filhos comigo.

    • Publicações73364
    • Seguidores792
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações29976
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/leia-depoimento-de-mulher-que-matou-pai-com-quem-teve-12-filhos/2820360

    Informações relacionadas

    Acusada de ser mandante da morte do pai é absolvida na tarde desta quinta-feira

    Espaço Vital
    Notíciashá 8 anos

    Cinco anos depois da absolvição de mulher que mandou matar o pai, com quem teve 12 filhos

    Canal Ciências Criminais, Estudante de Direito
    Artigoshá 5 anos

    20 filmes sobre Tribunal do Júri que você não pode deixar de assistir

    Samara de Andrade, Advogado
    Modeloshá 7 anos

    Saudações do Ministérios Público em Júri Simulado

    Francisco Dirceu Barros, Promotor de Justiça
    Artigoshá 10 anos

    Assassina ou santa?

    13 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

    Por isso a pena de morte deveria existir. Esse monstro não merece ser chamado de pai continuar lendo

    Que nojo desse mostro, antes de morrer fez tanta maldade. covarde, vai estar fudido no inferno continuar lendo

    Muito triste imaginarmos que aquele que um dia foi recheado de ocitocina (hormônio da felicidade, que só as mulheres possuem em abundância,de nada serviu pra esse "pai" que violentou e destruí a felicidade de sua própria filha,indefesa, ingênua e submissa a ignorância dele). continuar lendo

    Me parece um pouco contraditório o momento em que essa mulher descreve que pede a sua mãe para fugir com sua irmã para que o pai não abusasse dela pois se a mesma descreve que o inicio de seu martírio se deu justamente por a mãe ter sido conivente e ter ajudado o pedófilo do pai a estupra-la e como uma criança de nove anos teria forças para lutar com um adulto no meio do mato? Não duvido que essa mulher tenha sido abusada pelo próprio pai mas acho que há controvérsias nesse relato continuar lendo

    Voce nao entendeu, "Ela diz para a mae correr com a irma, pois o suposto Pai estava correndo atras dela com uma faca, pois nao aceitava a outra filha namorar que ele que era o touro da casa e logo quis abusar da filha nesse momento ela havia percebido que ele a mataria se nao abusasse dela, Tendeuuu?

    leia o trecho abaixo

    Um dia, uma irmã minha disse que estava interessada em um namorado. O pai quis pegar ela, disse que já tinha um touro em casa, e que não era para ninguém andar atrás de macho lá fora.

    Eu mandei minha mãe correr com minha irmã, e ele correu com a faca atrás. Depois disso, minha mãe não ficou mais com ele. Foram todos embora para Caruaru, para a casa do meu avô. Ela e as minhas oito irmãs. continuar lendo

    Provavelmente a mãe mudou a postura..o fato é que a história tá resumida. Mas daria vários livros. Quanto a ela conseguir escapar do pai não vejo nenhum absurdo mesmo pra uma criança. Aínda mais em um ambiente aberto. continuar lendo

    Pelo visto a mãe era coagida a fazer o que o "pai" mandava... Não viu que ele bateu nela por 3 dias seguidos, para que ela o ajudasse a estuprar a filha/neta? A mãe cedeu por não ter a coragem que essa mulher teve de mandar matar esse mostro.
    Quando a mulher percebeu que ele ia matar elas (mãe e irmã) fugiram. Ela já tinha filho com pai e pressumo que por isso não fugiu junto. Pelo que entendi eles viviam em situação de extrema miséria e com filho pequeno n dava pra fugir tbm. O estopim para o fim dos abusos foi quando ele quis abusar da filha/neta. Fora isso n tinha o que fazer... Vc viu que ela Pagou 800 reais para mandar matar ele? Provavelmente tudo o que tinha juntado por todos esses anos. E sabemos que não dá para se fazer uma vida com esse dinheiro. Ainda mais com 12 filhos. N compra nem a passagem. Não há nada de incoerente no depoimento dela continuar lendo

    Um homem questionando (e sim, duvidando) de um depoimento DESSES. Nada de novo sob o sol. O delegado também duvidou ;)
    Nos poupe, leia o texto direito. A mãe defendia o estupro. Disse que filha tinha que ser mulher do pai. Fugiu apenas quando ia ser morta.
    E sobre a força da mulher aos 9 anos para se defender, em uma situação dessas, você só quer sobreviver. Ela não arrebentou o pai na porrada, seu energúmeno. Ela se defendeu dando um chute no nariz dele. Algo perfeitamente cabível para uma menina de 9 anos, que trabalha duro na roça desde os 6 anos.
    Por que você não acha contraditório você ser o único aqui, homem, adulto, perfil mais comum dos estupradores e abusadores sexuais de crianças, a desconfiar e contestar o depoimento de uma mulher que passou tudo isso?
    Pense nisso, em vez de querer desacreditar de uma mulher que foi estuprada mais de 12 vezes pelo pai e tem os filhos-irmãos dela como prova, além do depoimento, além da mãe e irmãs que podem provar o depoimento. continuar lendo

    "Me parece um pouco contraditório o momento em que essa mulher descreve que pede a sua mãe para fugir com sua irmã para que o pai não abusasse dela pois se a mesma descreve que o inicio de seu martírio se deu justamente por a mãe ter sido conivente e ter ajudado o pedófilo do pai a estupra-la"

    Você viu que ela defendeu a filha-irmã dela de ser abusada, da mesma forma que ela foi, pelo pai?
    Da mesma forma ela quis defender a irmã e a mãe de serem mortas. Ela não permitiu que sua mãe e irmã fossem mortas e mandou fugir. Ela sabia que não tinha como fugir também, ela era o alvo do pai.
    Ela pediu ajuda outras vezes, para a mãe, para o delegado. Nunca foi ajudada. Ela sabia que não tinha escapatória. Que ninguém a defenderia. Mas mesmo assim ela ajudou a mãe e a irmã. Mesmo a mãe que foi conivente e inclusive ajudou ativamente no estupro dela.
    Essa mulher tem um caráter extraordinário, pois pensou primeiro em defender os outros do que a ela mesma, e defendeu a pessoa que ajudou no estupro dela, justamente quem deveria ter a defendido.
    É normal você achar contraditório a atitude dela, pois é difícil mesmo acreditar em uma mulher com tanta força, virtude e caráter, sem ter ao menos quem a ensinasse isso.
    Uma mulher que mesmo menina teve forças para se defender contra o pai. Defendeu a mãe que a ajudou a ser estuprada, teve forças para pedir ajuda a pessoas de fora. Não se matou, não se entregou totalmente. Extremamente pobre. É de se assustar mesmo, e só quem já passou por algo dessa gravidade ou tem caráter e humanidade entende. continuar lendo

    Sim pode ser que eu seja o único homem aqui comentando mesmo e daí??? Se tu tem tanta convicção de que eu seja um potencial pedófilo ou estuprador é só oferecer denuncias,me poupe da sua insensatez tenho o direito de discordar de histórias sem nenhum sentido e nenhum fundamento,isso não quer dizer que sou a favor de estupradores,portanto meça bem as suas palavras antes de destilar sua fúria sem nexo no primeiro que aparece.ALCANCE MATURIDADE E JUÍZO.Abraços continuar lendo